sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A Fuga.

Vozes constantes penetram seu pensamento, como um despertador que toca todos os dias de manhã. Mas com certeza essas vozes precisariam persistir mais um pouco para que Helen se fizesse lúcida. Não sabia se tentava abrir os olhos para descobrir quem estava falando do lado de fora de sua cabeça, ou se tentava permanecer naquele sono monótono e branco. Após vários minutos de tentativas frustradas de acordar ou tentar continuar dormindo, ela consegue finalmente abrir os olhos. As coisas estão completamente ofuscadas e embaçadas, e por um segundo um leve pânico se apodera de sua mente. O que estaria acontecendo? Estaria ela cega?
Após alguns segundos sua visão se torna útil novamente. E a primeira coisa que vê é uma televisão, elevada quase ao teto daquela sala branca e ofuscante. As vozes repetitivas em seu sono de morte se tratava de um canal de TV. Apesar de todos esses acontecimentos, nem passava em sua cabeça que estava numa cama de hospital, cercada de aparelhos com beeps repetitivos e delgadas mangueirinhas transparentes, e várias unidades de soro fisiológico. Apesar de estar presa a tudo isso, ela lentamente vira a cabeça para esquerda, e percebe o controle remoto sob uma mesinha de canto, que também eram várias gavetinhas cheias de bandagens e outras coisas. Mesmo com uma agulha no braço direito, ela alcança o controle, e com muito custo desliga aquelas vozes agoniantes e sorridentes que pareciam querer hipnotizar. Após apertar o botão, deixa o controle cair no chão.
Mais alguns minutos foram necessários para que ela voltasse a si por completo. Até então a TV era a única coisa em sua mente. E esse problema fora resolvido. Porém, na medida em que sua memória ia voltando o desespero também. Por fim percebe a situação que estava envolvida, fazendo com que sua respiração se torne ofegante. Fugir não era possível. A porta só se abria e fechava com um cartão de acesso. Com a televisão silenciada, ela ouve passos no corredor. Seu coração dispara. Quem teria deixado a TV ligada?

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A origem de Todo o Ódio

Um homem baleado no braço abraça uma mulher de vestido vermelho decotado. Uma forte chuva desaba sob os os dois. É noite. A única luz existente é a dos faróis do carro parado atrás deles. Depois de alguns minutos abraçados, eles se olham. Ele acaricia seu rosto. As gotas de chuva tornam imperceptíveis as lágrimas que ambos deixam cair naquele momento. Mas eles sabem que estão chorando. O homem saca uma arma do bolso de sua jaqueta e dá um tiro na própria cabeça, fazendo com que a mulher se assuste e leve as mãos ao rosto. A arma cai em meio às folhas molhadas que caíram das árvores que permeiam a estrada. A mulher se afasta lentamente com as mãos na boca e em estado de choque. Depois de alguns segundos, dá um grito com os punhos fechados e olhando para cima. Logo em seguida cai de joelhos e, lentamente abre os olhos.
Ao longe ela ouve as sirenes se aproximando. Todo o desespero que sentia é interrompido. Meio desastradamente ela arrasta o corpo de seu amante para o carro, mas o buraco de bala em sua cabeça não a deixa abrir os olhos, e os sapatos de salto alto insistem em não funcionar, dificultando seu intento. Depois de alguns minutos ela consegue colocar o corpo do homem no banco traseiro do carro. Ela não sabe bem o que está fazendo, e a polícia está muito perto.
Entra no carro bate a porta com força. Tenta dar a partida no motor, mas ele já está ligado, e ela se assusta com o barulho das engrenagens. Com as mãos abertas na frente do volante, tenta se recompor. Olha para o cambio e seleciona a posição "D".
Chove muito, e a estrada é de barro e está escorregadia. É como se o volante não respondesse aos seus comandos. As árvores passam rapidamente ao lado da estrada, e ela se mantém falando com o corpo que está no banco de trás. Diz que vai ficar tudo bem quando eles encontrarem ajuda, e que não deixaria a polícia encontrá-los. Desta vez as lágrimas se tornam perceptíveis em seu rosto. Lágrimas estas que embaçam sua visão já afetada pela chuva, e a fina condensação de água no para brisa do carro também prejudicam a condução do veículo. Olha no retrovisor e percebe os faróis do carro de polícia, e acelera até o final. O carro perde o controle e bate de frente numa arvore. A traseira do carro é jogada para o lado direito, e o carro permaneceu capotado após o acidente. A mulher meio desacordada abre os olhos, mas o brilho da lenterna do policial ofusca sua visão. Consegue ouvir o barulho da rádio e os policiais chamando uma ambulância. Subitamente apaga de novo.